sábado, outubro 07, 2006

Comentário: VMB de Cicarelli encarna o pastiche do país da piada ensaiada

Por: SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

O VMB 2006 foi um vexame. Nunca se viu um show tão tosco e amador. Piadas prontas, apresentadores desinformados e sem o senso do ridículo. Pior: Daniella Cicarelli em seu pastiche de moça incomodada com a invasão de privacidade dos paparazzi. Como dizem os adolescentes da MTV, ela causou, está se achando, e o mundo terá de suportá-la por mais um tempo --até seu próximo escândalo. E lembrar que Gretchen levou quase 50 anos para fazer seu primeiro pornô.

A MTV quis renascer das cinzas apelando para uma celebridade. Na casa, só sobrou a Cicarelli. O programa inteiro foi montado para promovê-la. A ex-ronaldinho virou a cara da emissora nestes anos 00, como foi Astrid (que virou promoter) nos anos 90. O que acontecerá com Cicarelli no pós-MTV? Vai substituir a Xuxa? Se bem que as duas têm algo em comum...

Voltando ao VMB, do lado masculino, o pior foi André Vasco. Não sabia o nome da música do clipe de Negra Li. Fez perguntas sem pé nem cabeça. Um horror para todos. E não era intencional. Até João Gordo a gente releva. Rafa é o Salsicha do "Scooby Doo", disse alguém da turma do Pânico. Penélope pagou um micão vestida de Chapeuzinho Vermelho, ao lado de Lobão e sua boca suja.


VMB exibe beijaço convocado por Cicarelli e bitoca entre os VJs Cazé e Marcos Mion;

Marcos Mion saiu ganhando. Ofuscou Cazé. O momento mais importante do VMB foi o beijo na boca entre os dois VJs. Também foi bacana o beijaço, que incluiu até dois homens. Uma ousadia, mas com um certo toque de oportunismo. Foi a Globo que levantou essa bola de beijo gay. A MTV só embarcou na onda,tirou uma casquinha com a versão homossexual do "Beija Sapo", e agora dois VJs tidos como héteros fingindo um beijo.

Resumo da ópera: não houve inovação no VMB do país do jabá, como bem lembrou recentemente o cantor e ministro Gil. Entre os premiados, os nomes de sempre. Tudo muito dentro do script. Até a participação de Caetano em plena promoção do seu "Cê". Já o caso Cicarelli perdeu a graça. Culpa da encenação, da péssima atuação de seus dublês, dessas figuras que representam todas as aberrações da cultura brasileira.

A três dias das eleições, os VJs puxaram uma vaia para os políticos, com direito a palavrões pesados. Nossas celebridades não estão tão preocupadas assim com o futuro do país das piadas ensaiadas de Cicarelli, do mutismo e cinismo de Fudêncio e seus amigos da Escola José Mojica Marins, um paraíso do bizarro e do grotesco. Elas estão em praias no exterior curtindo a vida adoidado. É esse o projeto de vida oferecido como exemplo. A vaia também deveria ser dirigida a esse videoclipe mal produzido, mal dirigido e principalmente mal protagonizado.